Estilo literário
Poeta possuidor de uma rara espontaneidade, de um apurado sentido
filosófico e notável pela «capacidade de expressão sintética de
conceitos com conteúdo de pensamento moral», António Aleixo tinha
por motivos de inspiração desde as brincadeiras dirigidas aos amigos
até à crítica sofrida das injustiças da vida. É notável em sua
poesia a expressão concisa e original de uma amarga filosofia,
aprendida na escola impiedosa da vida.
A sua conhecida obra poética é uma parte mínima de um vasto
repertório literário. O poeta, que escrevia sempre usando a métrica
mais comum na língua portuguesa (heptassílabos, em pequenas
composições de quatro versos, conhecidas como "quadras" ou
"trovas"), nunca teve a preocupação de registrar suas composições.
Apenas com o trabalho de Joaquim de Magalhães, que se dedicou a
compilar os versos que lhe ditou o poeta no intuito de compor o
primeiro volume de suas poesias ("Quando Começo a Cantar", e com o
posterior registro pelo próprio poeta com o incentivo daquele mesmo
professor, é que a obra de Aleixo recebeu algum registro escrito.
Antes de Magalhães, contudo, alguns amigos do poeta lançaram
folhetos avulsos com quadras por ele compostas, mais no intuito, à
época, de angariar algum dinheiro que ajudasse o poeta em ua
situação de miséria que com a intenção maior de permanência da obra
na forma escrita.
Estudiosos de António Aleixo ainda conjugam esforços no sentido de
reunir o seu espólio, que ainda se encontra fragmentado por vários
pontos do Algarve, algum dele já localizado. Sabe-se também que
vários cadernos seus de poesia - nos quais era incentivado por
Joaquim de Magalhães a registrar seus poemas, já que antes os
produzia espontaneamente em suas apresentações em feiras e praças
públicas, sem a preocupação de publicação - foram cremados como meio
de defesa contra o vírus infeccioso da doença que o vitimou, sem
dúvida, um «sacrifício» impensado, levado a cabo pelo
desconhecimento de seus vizinhos.
Foi esta uma perda irreparável de
um património insubstituível no vasto mundo da literatura
portuguesa.
A opinião pública e reconhecidos amigos
A partir da descoberta de Joaquim de Magalhães, o grande responsável
por "passar a limpo" e registrar a obra do poeta, António Aleixo
passou a ser apreciado por inúmeras figuras da sociedade. Também é
digno de registro José Rosa Madeira, que o protegeu, divulgou e
coleccionou os seus escritos, contribuindo no lançamento do primeiro
livro, "quando Começo a Cantar" (1943), editado pelo Círculo
Cultural do Algarve.
A opinião pública aceitou a primeira obra de António Aleixo com bom
agrado, sendo bem acolhido pela crítica. Com uma tiragem de 1.100
exemplares, o livro esgotou-se em poucos dias, o que proporciona a
Aleixo uma pequena melhoria de vida, que é ensombrada pela morte de
uma sua filha, doente com tuberculose.
Desta mesma doença viria o
poeta a sofrer pelos tratamentos que vida lhe foi impondo, tendo que
ser internado no Hospital – Sanatório dos Covões, em Coimbra, a 28
de Junho de 1943.
Em Coimbra começa uma nova era para o poeta que descobre novas
amizades e deleita-se com novos admiradores, que reconhecem o seu
talento, de destacar o Dr. Armando Gonçalves, o escritor Miguel
Torga e António Santos (Tossan), o artista plástico e autor da mais
conhecida imagem do poeta algarvio, amigo do poeta que nunca o
desamparou nas horas difíceis. Os seus últimos anos de vida foram
passados, ora no sanatório, em Coimbra, ora no Algarve, em Loulé.
Homenagem e Consagração
Em homenagem ao poeta popular e à sua obra, muitos distritos
portugueses atribuíram o seu nome a ruas e avenidas e até a diversas
escolas, como:
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O Liceu de Portimão passou a chamar-se Escola Secundária Poeta
António Aleixo.
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Em Paço de Arcos junto da Escola Náutica também existe uma rua com o
nome de António Aleixo,
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Em Camarate no Bairro São José
-
Em Albufeira junto ás praias no Algarve, e em muitas ruas espalhadas
por esse Portugal fora e não só, se pode ver e ouvir o nome do Poeta
do Povo imortalizado em alguma placa.
-
Há alguns anos também passou a existir uma «Fundação António Aleixo»
com sede em Loulé e que já usufrui do Estatuto de Utilidade Pública,
o que lhe permite atribuir bolsas de estudo aos mais carenciados,
facto que deve ser encarado como bastante positivo.
O reconhecimento a este poeta vai mais longe e até a CPLP
(Comunidade Portuguesa de Língua Portuguesa), os PALOP (Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa), bem como os Países de
língua oficial portuguesa vêm o mérito do poeta, imortalizando o seu
nome e obra constantemente:
-
Escola Poeta António Aleixo no Liceu Católico de São Paulo no
Brasil.
António Fernandes Aleixo está hoje, bem enraizado e presente. As
suas obras foram apresentadas na televisão, rádio e demais sistemas
de informação, os seus versos incluídos em diversas antologias, o
seu nome figura na história da literatura de língua portuguesa, é
patrono de instituições e grupos político-culturais, existem
medalhas cunhadas e monumentos erigidos em sua honra.
Da sua autoria
estão publicadas as seguintes obras:
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Quando começo a cantar – (1943);
-
Intencionais – (1945);
-
Auto da vida e da morte – (1948);
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Auto do curandeiro – (1950);
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Auto do Ti Jaquim - incompleto;
-
Este livro que vos deixo – (1969) - reunião de toda a obra do poeta;
-
Inéditos – (1979); tendo sido, estes quatro últimos, publicados
postumamente.
Levando-se em conta a pouca preparação e instrução que possuía,
muitos críticos afiançam ter sido António Aleixo um dos maiores
poetas de língua portuguesa.
'Sta na mão de toda agente
A felicidade, vê lá!...
E o homem só 'sta contente
no lugar onde não está.
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Não
há nenhum milionário
que seja feliz como eu:
tenho como secretário
um professor do liceu.
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De
vender a sorte grande,
confesso, não tenho pena;
que a roda ande ou desande
eu tenho sempre a pequena.
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Sei
que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
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És
feliz, vives na alta
e eu de ratos como a cobra.
Porquê? Porque tens de sobra
o pão que a tantos faz falta.
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Quem nada tem, nada come;
e ao pé de quem tem comer,
se disser que tem fome,
comete um crime, sem querer.
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Eu
não tenho vistas largas
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.
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P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
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Que
importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a razão, mesmo vencida
não deixa de ser Razão.
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Embora os meus olhos sejam
os mais pequenos do Mundo,
o que importa é que eles vejam
o que os homens são no fundo.
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Uma
mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
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Fui
polícia, fui soldado,
estive fora da nação;
vendo jogo, guardo gado,
só me falta ser ladrão.
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Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?
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À
guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
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Não
é só na grande terra
que os poetas cantam bem:
os rouxinóis são da serra
e cantam como ninguém.
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Ser
artista é ser alguém!
Que bonito é ser artista...
Ver as coisas mais além
do que alcança a nossa vista!
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Nunca gostei de mentir,
Mas faço bem quando minto,
Fazendo a outros sentir
Esp'ranças que já não sinto.
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Para não fazeres ofensas
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,
Mas pensa tudo o que dizes.
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O
mundo só pode ser
Melhor que até aqui,
- Quando consigas fazer
Mais p'los outros que por ti!
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Até
nas quadras que faço
Aos podres que o mundo tem,
Sinto que sou um pedaço
Do mesmo podre também.
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