O
trono era ladeado de jarras com verdura, onde sobressaía a murta, o
loureiro, o alecrim, a aroeira e a nespereira. Nas paredes da sala,
onde estava armado o Menino, colocavam-se também ramos de
laranjeira, com laranjas, de loureiro ou ainda de nespereira. Outras
famílias faziam um arco de verdura, à frente do trono.
Finalmente, colocava-se o Menino, feito pelo pinta-santos. O
vestidinho fora já cuidadosamente lavado e passado a ferro. Outras
vezes, vestia-se o Menino de novo. Este era o encanto das crianças,
que não se cansavam de olhar para Ele, apesar do seu aspecto não
invocar grande piedade, pois fora feito por um vulgar artesão. A mãe
preparava uma lamparina (copo com azeite e pavio com fios de linho)
e colocava-a em cima de um pratinho, à frente do Menino.
Uma característica, muito peculiar do Barrocal, é ornamentar o trono
com laranjas. Ao lado do presépio colocam-se também cachos de
laranjas dependurados na parede. Na zona marítima de Olhão, nas
primeiras décadas do século XX, as searinhas estavam dentro das
latas de conserva de sardinha.
O modo de armar este presépio encontra-se também na Ilha da Madeira.
É a chamada lapinha. É construída com três ou mais passadas
(degraus). É ornamentada com frutas e searinhas. Nos Açores, o
presépio com o Menino em pé denomina-se altarinho. Tem searinhas a
ornamentá-lo e, nas paredes da sala, ramos de laranjeira com
laranjas. Esta tradição também se encontra no Brasil e em quase
todas as nações da América Central e do Sul.
A presença das searinhas no presépio é compreendida pelo povo como
uma bênção. São colocadas para o Menino “as abençoar” e para “dar
muito pão às sementeiras”. Depois das festas, havia também o costume
de colocar as searinhas no campo para crescerem porque estavam
abençoadas. Mais tarde, o trigo recolhido era para mezinhas
caseiras.
Para ornar o presépio e torná-lo mais vistoso, para além do trigo,
introduziam-se outras espécies de sementes – aveia, cevada,
lentilhas, alpista, tremoços, etc. – que são semeadas no dia 8 de
Dezembro, festa de Nossa Senhora da Conceição. No concelho de
Tavira, também se semeiam ervilhacas e grão de bico, no dia 1 de
Dezembro, a fim de haver tempo suficiente para a germinação.
No Barrocal, as laranjas, colocadas no presépio, não eram apenas
para ornamento. Possuir laranjas era sinal de distinção. Quando um
afilhado ou pessoa amiga fazia uma visita na quadra natalícia,
dava-se uma laranja que estava no presépio. Se vinha o médico ou o
prior a casa, as famílias ficavam muito felizes e sentiam-se
honradas se eles retirassem uma peça de fruta do seu presépio.
As imagens do Menino Jesus devem-se essencialmente aos pinta-santos
ou faz-santos algarvios que surgiram no século XIX. Estes procuraram
reproduzir as imagens dos imaginários, sobretudo o Menino Jesus e
Jesus crucificado que, no Algarve, se chama Pai do Céu. A maioria
das famílias algarvias, da zona do Barrocal e da Serra, no
Sotavento, tinham em casa uma destas imagens. Era costume os pais
oferecerem aos filhos, como prenda de casamento, a imagem do Menino
Jesus e/ou do Pai do Céu, para ser colocada na casa de fora do novo
lar. Na orla marítima, encontra-se a mesma tradição, sobretudo nos
concelhos de Castro Marim e Tavira.
Estas imagens, de origem e características populares, criadas pelos
pinta-santos, têm, habitualmente, cerca de 20 cm de altura e surgem
colocadas em cima de uma penha de madeira.
Pe. José da Cunha Duarte, Natal no Algarve: raízes medievais, 2002
(adaptado)
Presépio em exposição na biblioteca desde 9 de Dezembro de 2003. O
presépio ( e também o texto acima) foi realizado pelas professoras
Marília Fernandes, Manuela Barreira e Mª José Ramos, da equipa da
biblioteca.
Página publicada em 11/12/2003 por mais um elemento da equipa da
biblioteca.
fonte:
http://www.esec-tomas-cabreira.rcts.pt
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