Festa da gastronomia e das receitas típicas das aldeias do Algarve
À descoberta dos sabores tradicionais
Preservar saberes para construir o futuro
É hoje um dado inquestionável que a gastronomia de um país é um
tesouro valioso tal como as artes e os ofícios, a etnografia, a
língua e a literatura. Como dizia Fialho de Almeida "transmite-se
por tradição...Ninguém a inventou e inventaram-na todos".
Faz todo o sentido pôr em relevo esta expressão cultural,
enriquecedora da nossa tradição,
tal como é feito, como por exemplo,
com a língua a religião, ou as várias expressões artísticas.
É uma
maneira de chamar a atenção para um património imaterial original,
que importa
preservar e reabilitar pois que muito facilmente se
perde e se adultera.
Preservar receitas é preservar tradições e culturas. A caldeirada,
as cataplanas de peixe, o arroz de peixe, o bife de atum, o arroz de
lingueirão, os carapaus alimados, as sopas ricas de
peixe, as papas
de milho ou xarém, os chocos à algarvia, o coelho à moda do campo, |
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o galo do campo guisado, a tiborna, o queijo de cabra, a sardinha assada, os
enchidos, os perceves, o bolo de amêndoa, o mel, os doces de figo, o
morgado de amêndoa, o Dom Rodrigo, e outras tantas receitas, seriam
só por si suficientes para considerar a gastronomia algarvia um
património único.
Mas
há tantas outras receitas e formas de cozinhar menos conhecidas e
que precisam de salvaguarda e divulgação urgente, através de uma
recolha sistemática. Foi isso, em boa parte, o que este projecto
tentou iniciar e a semente que tentou deixar.
No caso específico da cozinha algarvia a sua riqueza reside na
especificidade e na diversidade dos produtos que utiliza, bem como
na forma original como absorveu sabores e técnicas das ementas dos
povos que ali viveram, com especial relevância para os árabes.
A gastronomia algarvia é o resultado do acumular de sabores de
séculos de existência, misturado, afinado e refinado com os gostos
particulares daqueles que cozinham.
Foi com base em toda esta história riquíssima e que não tem sido
devidamente estudada, que elaborámos o nosso projecto de candidatura
à iniciativa que a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Algarve, em boa hora, resolveu desenvolver para promover
a história da alimentação nas aldeias do Algarve.
Maria da Conceição
Amaral - TerraCulta,lda
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O adágio
popular que diz
"Quem passarinhos receia milho não semeia" é também um
elemento demonstrativo da impregnação cultural desta planta.
Até há bem pouco tempo ainda se fazia farinha de milho, em
algumas zonas do Algarve, triturando-se os grãos na "molineta",
a mó manual herdada dos romanos.
Este milho mal moído era (e ainda é) aproveitado para fazer
xarém (xerém ou zerém), as papas de milho comum a toda a bacia
mediterrânica. |
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